A
Comissão de Direitos Humanos da União Africana exortou o governo angolano a
tomar medidas para evitar qualquer ataque a David Mendes, advogado e líder do
Partido Popular (na foto: à direita).
O
apelo foi feito numa carta da Comissão dos Direitos Humanos datada de 30 de
abril, que se baseia numa queixa encaminhada à União Africana pela organização
não-governamental de defesa dos direitos humanos "Centre for Human
Rights", com sede na África do Sul. A queixa da ONG chama a atenção para o
facto de o governo angolano cometer violações de direitos humanos contra David
Mendes, em particular, desde que Mendes apresentou uma queixa criminal à
Promotoria Geral do Estado de Angola, acusando o presidente angolano de
corrupção e de desvio de fundos.
A
DW África conversou hoje (29.05.2012) com David Mendes e perguntou se ele
espera que o governo de José Eduardo dos Santos vai acatar o pedido da Comissão
de Direitos Humanos da União Africana.
David
Mendes (DM): Eu acredito que o Presidente da República José Eduardo dos Santos
não queira mais ver o seu nome envolvido em crimes e acredito que a
internacionalização do meu caso torna visível qualquer ação que se possa
cometer contra mim.
DW
África: Tem conhecimento de alguma reação do governo angolano a esta carta da
Comissão de Direitos Humanos da União Africana?
DM:
Eu acho que o governo angolano não vai responder a essa carta. Vai-se manter no
silêncio. Só espero que o Provedor da Justiça e o secretário de Estado dos
Direitos Humanos encarem esta situação com muita preocupação. Em dois processos
crime nós requeremos às autoridades que se esforcem por proteger determinadas
pessoas e passado um tempo algumas dessas pessoas foram mortas. A União
Africana, com essa carta, com essa recomendação, pode chamar a atenção o regime
do Presidente José Eduardo dos Santos, contribuindo assim para que eles
encararem com mais responsabilidade a proteção do meu património e sobretudo da
minha própria vida.
DW
África: Acha que a sua vida está ameaçada em Angola?
José
Eduardo dos Santos, presidente angolano, (na foto), foi acusado por David
Mendes de desvio de dinheiros públicos para as suas contas pessoais
DM:
Todas as pessoas sabem qual é a minha verdadeira situação. Tudo se complicou a
partir do momento em que eu tive a ousadia de publicar as contas do presidente
José Eduardo dos Santos e de apresentar uma queixa crime por peculato, devido
aos milhões de dólares que foram desviados dos cofres do Estado para as contas
do Presidente José Eduardo dos Santos. Ameaçaram-me com a morte, partiram-me o
carro, invadiram a sede do meu partido, dispararam com dois tiros contra a sede
da associação ‘Mãos Livres”, onde também trabalho como advogado, assaltaram os
nossos escritórios em Benguela, foram também ao escrotório do Partido Popular
no Moxico e destruiram a nossa documentação que tinha a vêr com a apresentação
de assinaturas para a corrida eleitoral, prenderam o nosso secretário durante
muito tempo em parte incerta e foi preciso exercer muita pressão para que ele
reaparecesse, e com regularidade continuo a receber – por sms, por telephone e
em vários sites na internet – ameaças diretas contra a minha pessoa.
DW
África: Declarou a sua intenção de concorrer às eleições em Angola. Espera
vencer as eleições deste ano?
DM:
Mesmo não vencendo, acho que estou a contribuir para a democratização de
Angola. Vencendo ou não estas eleições queremos emitir um sinal bem claro que a
época do medo terminou. Estamos numa fase em que – em situações normais –
estariamos em condições de derrubar este regime.
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