sábado, 13 de agosto de 2011

"O que mais me preocupa não é o barulho dos maus, mas o silêncio dos bons”

Penso que está na hora de os verdadeiros intelectuais, filhos de Angola e o povo em geral, assumirem o seu verdadeiro papel para mudarem o curso dos acontecimentos em Angola.
Lembro-me como se fosse hoje que nos nossos tempos de menino (eu e tantos outros meus contemporâneos) atrás de bolas de trapos, só duas coisas sabíamos existirem naquela minúscula realidade geográfica: o catolicismo e o MPLArismo... Éramos como que criaturas platónicas que viam apenas sombras projectadas nas paredes do nosso mundo denegado. A realidade na sua essência ontológica era de longe nossa desconhecida… Foi assim no Chiulo perdido em mil mitos; o Chiulo cujo devir emaranhava-se em tautologias existenciais consequentes. Onde a alegria do amanhã resumia-se no cair abundante da chuva e no mugir matutino da vaca de tetas assanhadas. Onde existir era simplesmente cantarolar aleluias de hossanas intermináveis e reviver as aventuras heróicas do menino “Ngangula”…e acreditar, zelosamente, na esperança prometida que ainda hoje ma não chegou!
Graças a tenacidade e visão dos nossos progenitores fomos à escola aprender o ABC, apesar do tempo escasso dividido entre pastos longínquos de sol ardente, ora no “Mboloco”, ora no “Maveli”, e nos mergulhos do “mucope” envergonhado em cujas águas tépidas a nossa infância teimosamente nadou e bebeu. Ali onde o bagre preto era deliciado vivo pelos nossos paladares impacientados em cada madrugada.
O tempo fluiu e confesso que, hoje, somos homens. Somos cidadãos com uma visão própria, capazes de analisar e influenciar a humanidade positivamente. De colocar o seu pedaço de tijolo na construção dest’Angola. Logo, julgo que ser desta ou daquela filiação política não é o mais importante. O fundamental é sermos angolanos comprometidos com a causa da nação; sermos antes cidadãos. Só depois é que somos do partido A ou B ou ainda nem de A nem de B. Ora, estar em ângulos diferentes é absolutamente normal. Estar no ângulo errado e não puder enxergar a verdade é próprio de quem precisa de ajuda e da lucidez dos lúcidos. Estar no ângulo errado e não “querer” ver a verdade é caturrice. É próprio de quem aposta no fanatismo como prato preferido. O fanatismo político que aflige maior parte dos angolanos é patológico. Onde há fanatismo há cegueira, há mitologia e isto não concorre para o surgimento da verdadeira ciência política nem da verdade eleitoral e tão pouco da verdade científica. O fanatismo inviabiliza e retarda o desenvolvimento sustentável e harmonioso deste país. Ser fanático é ter as chaves do “abre-te sésamo”, em mãos, e não querer usá-las em prol do bem comum. É puro “cototismo” e “cambutismo” intelectual. É próprio de mentes míopes e espíritos embotados que precisam ser lascadas quão pedras duras da idade da pedra. Por isso é que muitos dos “bons” dos quais se deveria esperar hoje para dar algo ao país – os ditos intelectuais da nossa terra - privilegiaram prontamente e de forma categórica o “primum vivere”! Venderam de forma ambulante e à saldos a sua própria dignidade em troca do pão ralado no sangue do seu próprio irmão!... Esqueceram-se de pensar com a cabeça e preferiram pensar com a barriga empanturrada. Puseram as suas cabeças e o seu saber em arrendamento. Quando abrem as suas bocas são autênticos papagaios bajuladores. Tudo é graças ao chefe-mor! Não tarda até suas próprias mulheres concebidas será graças ao timoneiro da paz. Graças à visão política e estratégica do Chefe. A cultura de chefe e de bajulação atingiu proporções astronómicas nesse país.  
É consabido que ninguém dá o que ele próprio carece. É por isso que o regime do MPLA nunca dará democracia à Angola, nem aos angolanos. O povo angolano continuará pobre se apostar na implantação da democracia em Angola, pois esta não “enche a barriga”! Foi-nos “imposta do ocidente”! O mais importante é resolver os problemas dos poderosos. Quanto ao povo, esse que se lixe, pois ser angolano genuíno significa comungar dos ideais do regime. Significa exibir o cartão de militante do partido situacional e mencionar o CAP ou o Comité de especialidade a que se pertence. É uma segregação social a todo o terreno!
Será que um país normal, onde todos são angolanos, precisaria de usar as cores partidárias como critério de acesso ao emprego, às instituições públicas e às riquezas do país? A descriminação social como o principal trunfo usado pelo regime para compelir tudo e todos a aderir às suas políticas é salutar para o real desenvolvimento do país? Julgo que o país só se desenvolve com factor recursos humanos bem aprimorado. Isto implica educação de qualidade e inclusão de todos os angolanos sem excepção. O país é de todos e não apenas de uma “elite predestinada”que se enriqueceu, ilicitamente, até aos dentes de dia para noite. O país não pode continuar a ser tão rico e continuar a ser habitado por gente tão pobre. É uma aberração!
Está na hora de dizer basta à miséria, à fome, à corrupção, à desgovernação, à falta de condições básicas como água, energia, saúde, educação de qualidade, saneamento básico, à falta de habitação condigna... É urgente pugnarmos por um país normal com uma democracia funcional e actuante. Um país que privilegie o homem em todas as suas dimensões com políticas sérias e inclusivas. É necessário um estado ao serviço do homem e não alguns homens ao serviço das riquezas de todos fazendo e desfazendo como de chitaka dos seus avós se tratasse.
Espero que o angolano continue a ser cada vez mais cidadão, dono do seu próprio destino. Que o angolano ganhe a coragem necessária para dizer alto, baaaasta... Basta da delapidação do erário público e de tráfico de influências. Que o angolano não diga mais que a oposição, em Angola, é fraca. Se é fraca é porque ainda não se juntou a ela. Junte-se a ela e faça diferença. Faça bloco. Sê democrático; Construa um país normal e melhor para si e para sua posteridade.
Viva Angola.
Fernando Kapetango