Justino
Pinto de Andrade
1.
A Liberdade de Expressão e uma das suas dimensões, a Liberdade de Imprensa,
integram
o amplo conjunto de Direitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
2.
Devido à grande importância de que se reveste, em sessão de 20 de Dezembro de
1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas consagrou o dia 3 de Maio como Dia
Mundial da Liberdade de Imprensa, na sequência da “Declaração de Windhoek”
aprovada em 1991, no decurso do Seminário promovido pela UNESCO sobre “Promoção
da Independência e do Pluralismo da Imprensa em África”.
3.
Falar em liberdade de imprensa traz, de imediato, à memória os constrangimentos
que impedem os profissionais da imprensa de exercerem devidamente as suas
funções, tornando-se alvo de perseguições, agressões físicas e morais, prisões
e até mesmo assassinatos.
4.
As zonas de conflito e as de pós-conflito são, por norma, as mais perigosas
para o exercício do jornalismo. Todavia, o exercício da imprensa tem conhecido,
igualmente, sérios obstáculos em situações e em contextos aparentemente mais
“normais”, fruto da cultura de intolerância que ainda prevalece.
5.
Alguns países têm-se tornado referências negativas pelo modo como a imprensa
pode ser utilizada para instigar o ódio e a violência, com consequências imprevisíveis
e resultados irreparáveis. Falo, concretamente, do Ruanda, Bósnia e
Herzegovina, Costa do Marfim. Foi com o recurso à imprensa, e sob variadas formas,
que se incendiaram os ânimos colocando uns contra os outros, terminando em
verdadeiros morticínios.
6.
Contudo, a chamada informação participativa que se socorre, sobretudo, de
instrumentos de difusão cada vez mais potentes, também tem servido para alertar
o mundo para graves situações de violação dos direitos humanos. Tem sido assim,
por exemplo, no Irão, na Rússia e, muito recentemente, na Síria. O êxito da
chamada “Primavera Árabe” deve ser, pelo menos em parte, a esse recurso.
7.
O despertar das redes sociais vai provocando certa inquietação em alguma classe
política, independentemente da ideologia. Por exemplo, é por demais conhecida a
disposição das autoridades chineses para o controlo das redes sociais com o
objectivo de melhor conterem os crescentes protestos que se repetem no país. A
sua maior vítima tem sido o Twitter. Mas, essas mesmas autoridades socorrem-se
também das redes sociais para conhecer a identidade dos dissidentes. Por isso,
proibiram o recurso ao anonimato na utilização das redes sociais.
8.
O governo conservador britânico do Primeiro-ministro James Cameroun está a
sentir igualmente a tentação para interferir na vida das redes sociais, alegadamente
por razões de segurança do Estado. O mesmo se passa com as autoridades norte americanas
e outras.
9.
Mas, se é verdade que as redes sociais podem estimular o recurso a actos de
insubordinação e violência, não é menos que verdade que elas podem constituir-se
num instrumento útil para os próprios governos perceberem mais fácil e
rapidamente o sentimento das pessoas, para, de seguida, poderem promover mais rapidamente
políticas públicas benéficas para os cidadãos.
11.
É bem perceptível o esforço que alguns sectores da nossa sociedade realizam
para controlar e “domesticar” a comunicação social privada. Com esse objectivo,
grupos económicas umbilicalmente ligados ao poder político vão esbanjando
dinheiro com a aquisição de títulos que, pela sua postura e linha editorial,
eram tidos como incómodos. Busca-se, assim, “uniformizar” toda a informação, tendo
como referência a comunicação social pública.
12.
Não creio que seja possível construir uma sociedade livre e plural a partir de
pressupostos unitários. A democracia alimenta-se não apenas da multiplicidade de
organizações políticas e sociais mas, também e sobretudo, da liberdade de
expressão. É por via dessa liberdade de expressão que se confrontam ideias e
projectos, e mesmo até se torna possível construir consensos sobre pontos essenciais.
Tentar “uniformizar” a informação é criar mecanismos de bloqueio que, a prazo,
alimentam soluções não democráticas.
13.
As sociedades democráticas propiciam o livre acesso à informação e ao
conhecimento, beneficiando quer os governantes, quer os governados. As
sociedades monolíticas, onde se reprime a livre circulação das ideias, com o
tempo definham e autodestroem-se. A história recente está cheia desses exemplos
e os cemitérios estão pejados das suas víti.
Fonte:semanário angolense.
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