domingo, 15 de agosto de 2010

BPC, MARTÍRIO NA HORA DE RECEBER O SALÁRIO

O trabalhador é obrigado a madrugar de casa para conseguir marcar um lugar na fila do banco com vista a saborear do pão que para além de meses de atraso, ainda dura receber



A paz é um bem que trouxe vários ganhos aos angolanos. Com ela muitas mudanças vão-se efectuando, desde o sistema de governação, a luta por um emprego (compatível com as necessidades ou, pelo menos, para não manter o fogareiro apagado), o crescimento de infra estruturas, da economia nacional – como tanto se diz, e tantas outras.

Ao falar em economia, emprego, sistema governativo, satisfação de necessidades, cairemos imediatamente na expressão totalmente conhecida e bastante agradável de todo o trabalhador “o salário”. Este é o elemento chave pelo qual vale a pena levantar-se cedo todos os dias, caminhar quilómetros inúmeros, apanhar sol ou chuva, dar de tudo quanto se sabe e procurar aprender sempre para o desenvolvimento harmonioso do país, em busca de um sustento digno para as famílias.

Tal como o direito e o dever de trabalhar, assim é o salário. Em Angola, procurando colmatar as falhas ora existentes no processo demasiado fraudulento dos salários da função pública (existência de funcionário fantasmas na folha de salário, o não pagamento a alguns funcionários) levou a que o governo decidisse pela bancarização salarial de seus assalariados. O que não se pensou bem foram os métodos de acção. Foi indicado somente um banco estatal (o BPC – Banco de Poupança e Crédito) violando o princípio de liberdade contratual vigente no Código Civil Angolano. Outrossim, falemos numa tentativa de ordem que somente provocou bastante desordem.

O governo não pensou em localizar as agências bancárias junto das populações afins, ou seja, não foram pelo menos instaladas representações do banco referenciado nas sedes municipais do país para minimizar o sacrifício dos servidores públicos. Em consequência disto são forçados a percorrer imensas distâncias das suas comunas, municípios, até àquele que contenha um banco. E como se não bastasse, muitas das vezes são confrontados com a falta do famoso sistema e, na pior das hipóteses, o salário tão almejado, merecedor do sacrifício laboral e pelo qual tanto se andou, não está na conta. “Ai que martírio!” Morador ou não, o trabalhador é obrigado a madrugar de casa para conseguir marcar um lugar na fila do banco com vista a saborear do pão que para além de meses de atraso, ainda dura receber.

Pior mesmo é o governo não perceber quantos funcionários faltam ao serviço com este sistema e, obviamente, não produzem nos dias em que enfrentam a derradeira fila do banco. Até faz lembrar os tempos da “loja do povo” (nos primórdios da independência) onde mesmo com o seu dinheiro, só se conseguia comprar algo aos empurrões, ou então nas fases da guerra quando fossemos receber ajuda humanitária às ONG’S. E actualmente, filas do género somente vemo-las nas padarias, e até mais organizadas e pacíficas.

É deveras incompreensível a triste capacidade do governo angolano em manter nestas condições o seu eleitorado a que diz proteger e apoiar.

A nossa recomendação é de apenas respeitar o direito de liberdade de escolha dos cidadãos nos bancos que melhor prestam serviços a cada cidadão e que se encontre mais próximo da sua residência ou local de trabalho.

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